TruckPad, um segundo unicórnio brasileiro na área de transporte?

Por Nelson Valêncio – InfraDigital
Conheci Carlos Mira, fundador do TruckPad, há alguns anos no evento Transmobile. Sabia que ele vinha de uma família tradicional da área de transporte de cargas e que demonstrava interesse em temas inovadores para um segmento extremamente tradicional. Não tinha conhecimento que ele chegou a brigar com a família para criar seu próprio negócio e nem da sua passagem pelo Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde aprimorou o modelo de negócios do aplicativo. Em 2002, quando Mira registrava o app no INPI, o mercado não estava preparado para a inovação. Hoje, a história é outra e talvez ele esteja a caminho de ser o segundo unicórnio brasileiro na área de transporte.
O primeiro, de acordo com o levantamento da TroposLab, uma aceleradora de startups, é o 99, cujo valor de mercado supera o US$ 1 bilhão, o que caracteriza a denominação de unicórnio. Se continuar na sua rota de ascensão, o TruckPad deve ampliar a participação no mercado brasileiro de cargas e avançar para a América Latina. Só o mercado local já tem um peso considerável: pela plataforma são movimentados cerca de R$ 20 bilhões em frente ofertados e o próximo passo é atingir R$ 50 bilhões. Como todo aplicativo, o TruckPad faz um meio de campo entre as transportadoras (que pagam pelo serviço) e os caminhoneiros autônomos.
O papel da empresa é o de ser um mercado digital para cargas, inclusive validando o status do caminhoneiro em relação a questões como a gestão de risco e outras burocracias. Com esse modelo, o TruckPad já tinha dado um cavalo de pau – perdão pelo trocadilho – nos agenciadores de carga. Eram eles que faziam a intermediação, cobrando um percentual (20% a 30%) dos caminhoneiros. O app subverteu a ordem tradicional e permitiu ainda que as transportadoras usem a plataforma para localizar os caminhoneiros e fazer a gestão do processo. Para quem está fora do ramo, pense no Uber como modelo inicial e, num segundo momento, no Mercado Livre.
Plataforma agora integra meio de pagamento e pode eliminar carta frete
E explico o porquê. Depois de quebrar o tabu de que os caminhoneiros não adotariam o aplicativo porque não teriam smartphones e estariam acostumados com os agenciadores de carga, o TruckPad mexe com outra estrutura tradicional. Estamos falando da carta frete, uma jabuticaba tipicamente brasileira. Trata-se de um meio de pagamento atualmente ilegal e que existe há 60 anos. A modalidade de pagamento – informal e que funciona como se você um voucher – poderá ser substituída pelo TruckPad Pay, uma plataforma de pagamento dentro do app.

“Não tem banco por trás, é um meio de pagamento homologado, que levamos dois anos para aprovar”, resume Mira. Segundo ele, a mesma pandemia que atrapalhou os planos de treinar presencialmente os caminhoneiros no uso do novo meio de pagamento, também criou o ambiente para sua adoção. “O pagamento do auxílio governamental mostrou o potencial de usar ferramentas digitais como meio de pagamentos”, argumenta.
Com seu modelo de Mercado Livre na área de cargas rodoviárias, o TruckPad também gerou um volume de dados grande para serem analisados e Mira adianta que vem usando recursos de Big Data e de Analytics para melhorar a ferramenta e, inclusive, Inteligência Artificial para turbinar a plataforma. Com tanto volume, não é difícil entender que o maior custo do TruckPad, operacionalmente falando, envolve o armazenamento de dados na nuvem, hospedados na Amazon e no Google. Do ponto de vista prático, o app fez com que as transportadoras reduzissem a contratação dos caminhoneiros em média, de 48 horas para 10 minutos. Os autônomos, por sua vez, não rodam mais quilômetros para conseguir um frete e contribuem para diminuir o percentual de 40% de caminhões trafegando sem carga no país.