Transporte de explosivos: o passo a passo para uma movimentação segura
Cumprimento das Normas Regulamentadoras, adoção de sistemas de gestão e treinamento da mão de obra estão entre os fatores que contribuem para um transporte de explosivos bem sucedido
Quem trabalha em pedreiras sabe bem que o transporte de explosivos requer uma série de cuidados extras que visam garantir tanto a segurança dos envolvidos em todo processo, como operadores e motoristas, quanto evitar quaisquer danos aos produtos e ao meio ambiente, prevenindo contaminações ou descartes inadequados.
A movimentação deste tipo de material – que inclusive se enquadra na categoria de Produto Controlado pelo Exército (PCE) – é acompanhada de perto por normas e diretrizes estabelecidas por órgãos e entidades competentes.

Daniel Seyfferth
Entre as principais regulamentações que visam trazer mais segurança para esta operação, de acordo com Daniel Seyfferth de Oliveira, Gerente de Supply Chain da Enaex Britanite, empresa líder no mercado brasileiro de explosivos civis e especializada na produção de explosivos e na prestação de serviços de fragmentação de rocha, estão:
COLOG 147/2019: portaria do Comando Logístico que dispõe sobre procedimentos administrativos para o exercício de atividades com explosivos e seus acessórios, bem como produtos que contêm nitrato de amônio. Como exemplo, define desde o padrão construtivo de um depósito para armazenagem dos diversos tipos de produtos, passando pelas exigências de monitoramento durante o transporte, chegando até as orientações em caso de acidentes. É, portanto, a “espinha dorsal” das exigências relacionadas a explosivos.
ANTT nº 5.848/19 e nº 5.232/16: resoluções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que prescreve as condições do transporte, documentação, deveres, obrigações e responsabilidades. Além disso, estabelece exigências e detalhamentos relativos à correta classificação do produto; à adequação, certificação e identificação dos volumes e das embalagens; à sinalização das unidades e dos equipamentos de transporte; à documentação; às prescrições aplicáveis a veículos e equipamentos do transporte rodoviário, quantidade limitada e provisões especiais, quando aplicáveis. acondicionamento dos produtos.
Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ): certificação desenvolvida e exigida pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que qualifica os transportadores a movimentar produtos químicos pela checagem de uma séria de requerimentos. No seu módulo rodoviário, audita itens como documentação (licenças, alvarás, registros técnicos, autorizações), capacitação dos envolvidos, contratação de seguros e serviços emergenciais. É a principal diretriz a ser seguida referente ao transportador rodoviário de produtos químicos e que estabelece um padrão mínimo exigido nos processos de concorrência de empresas de ponta.
NR-19: portaria do Ministério do Trabalho que trata da fabricação, armazenagem, comercialização e transporte de explosivos. Com relação às suas exigências logísticas e de armazenagem, reforça ou complementa as diretrizes anteriores.

Tiago Salau Paim
De forma mais detalhada, as empresas responsáveis pelo transporte de explosivos precisam considerar algumas premissas importantes, não apenas para evitar os riscos de iniciação do produto, como também para impedir os eventos de roubo e furtos da mercadoria. Como exemplo, Tiago Salau Paim, Gerente de Negócios da Orica, empresa de origem australiana atuante no mercado global de explosivos, explica que todos os veículos que transportam explosivos em via pública devem ter um sistema de rastreamento (GPS) e, ainda, ser acompanhados por escolta armada. “Além disso, os detonadores devem ser separados de outros explosivos durante o transporte para evitar a iniciação não planejada da carga explosiva”, diz.
Mas essas não são as únicas práticas levantadas pela empresa. A lista abarca, ainda, a importância de que as informações de resposta a emergências estejam disponíveis na cabine do veículo e de que os condutores recebam treinamento em procedimentos de emergência, incluindo evacuação e uso de equipamentos como extintores de incêndio. “Outro controle que deve ser considerado é a instalação de um dispositivo automático de proteção contra sobrecarga na bateria de veículos que transportam explosivos, Nitrato de Amônio ou Emulsão Oxidante, para interromper o fluxo de corrente nos circuitos elétricos a fim de evitar o superaquecimento”, lembra Paim.
Não utilizar ferramentas ou utensílios que possam gerar centelha ou calor por atrito, bem como acondicionar os materiais em embalagem homologadas e apropriadas para tal completam a listagem.
Investimento em treinamentos e sistemas de gestão
Para garantir um transporte e manuseio seguro de explosivos, as empresas deste setor apostam em algumas práticas complementares. A Enaex Britanite, por exemplo, adota um sistema de gestão que garante o atendimento das normas e diretrizes listadas acima e faz uso de outras ferramentas, como: treinamentos, capacitações, exigências contratuais, auditorias em prestadores de serviços, adoção de tecnologias avançadas, instruções operacionais, programa de melhoria contínua interno e com fornecedores, diálogos diários de segurança, além de muitas outras inciativas ligadas aos programas corporativos de segurança e qualidade da companhia.
Uma linha parecida é seguida pela Ecoblasting, prestadora de serviços de desmonte de rocha e concreto e detonações controladas. “Efetuamos treinamentos periódicos para promover a capacitação e treinamento permanente dos nossos trabalhadores, conforme programa e cronograma específico, ministrando-lhes todas as informações sobre os riscos decorrentes das suas atividades produtivas e as medidas de prevenção necessárias”, conta o especialista em medições e controles da empresa, César Ramos Nogueira.
Abaixo veja conheça alguns dos treinamentos prestados pela Ecoblasting:
- Plano de Emergência e Combate a Incêndio e Explosão;
- Normas de Procedimentos Operacionais;
- A correta utilização e manutenção dos equipamentos de proteção individual, bem como as suas limitações;
- Prevenção de acidentes;
- Procedimentos e noções de primeiros socorros;
- Percepção dos riscos e fatores que afetam as percepções das pessoas;
- Impacto e fatores comportamentais na segurança;
- O fator medo.
A Orica desenvolveu padrões procedimentos e instruções de trabalho baseados em análises de risco, os quais inclui todos os controles críticos que devem estar presentes nas operações que envolvem a manipulação de explosivos. “Além disso, possuímos uma extensa matriz de treinamento, alinhado com a função exercida por cada colaborador”, conta Paim.
Os treinamentos são realizados antes do início do trabalho e, posteriormente, de maneira periódica e incluem temas, como: indução de Saúde, Segurança e Meio Ambiente; Sistema de Iniciação; perigos maiores; conscientização em mina subterrânea; práticas de suporte em detonação; métodos de trabalho seguro; verificação pré-início; entre outros.

Caminhão-Fábrica da Enaex Britanite
Paim reforça que todo colaborador que manipula explosivo é treinado nas instruções de trabalho específicas de sua função, sendo acompanhado por um período por outro colaborador com experiência. “Essa prática visa fornecer conhecimento, mostrar os riscos associados a atividade e, principalmente, indicar quais são os controles que devem estar presentes antes do início de cada ação”, conclui.
Inovações tecnológicas

Márcio Vivas
A Enaex conta com Unidades Móveis de Bombeamento (UMB) que incorporam sistemas automáticos de ponta para controlar o carregamento de explosivos – o que garante a qualidade e a quantidade do produto entregue. Mais segurança, maior precisão e eficiência: “nossa operação conta com caminhões de alta tecnologia que fabricam explosivos no local do desmonte e carregam mecanicamente os agentes adequados para cada situação, com alta capacidade de armazenamento e bombeamento”, destaca Márcio Vivas, Gerente Geral de Operações da empresa.
Dentre estas UMB’s, destaca-se o Caminhão-Fábrica Enaex por sua versatilidade e produtividade. Esse caminhão está preparado para aplicação de explosivo do tipo ANFO, emulsão ou mistura destes produtos, podendo ser bombeado ou derramado de acordo com a formulação escolhida.
A seguir algumas características do Caminhão-Fábrica Enaex:
- Capacidade de Armazenamento: até 23 toneladas;
- Vazão de bombeamento: entre 200 e 350 kg/min de IBEMUX ou IBENITE;
- Vazão de derramamento: entre 400 e 900 kg/min de IBEMEX ou ANFOMAX, dependendo do produto;
- Sistema proporcional para maior controle de formulação de produto aplicado;
- Sistema de segurança mecânico e eletrônico de proteção de pressão de trabalho do equipamento;
- Sistema de segurança eletrônico de proteção de temperatura de trabalho do equipamento;
- Apto a produzir diferentes blendagens (emulsão/nitrato de amônio), bombeado ou derramado;
- Operação de dentro da cabine ou fora;
- Sistema vibratório para tanque de Nitrato;
- Sensores de nível nos tanques para monitoramento e controle de insumos.
Por sua vez, a Orica traz o Bulkmaster 7, Smart-Truck que possui uma das maiores capacidades (carga útil) e taxas de entrega de explosivos do mercado (bombeável e derramado) e que é capaz de fornecer uma ampla gama de misturas explosivas ao banco. “O Bulkmaster 7 pode se conectar com a nossa plataforma de otimização e gerenciamento de dados, a BlastIQ, para receber dados do plano de carregamento em tempo real e ajustar as cargas de acordo com as regras de carregamento de furo a furo, garantindo um ajuste ideal na energia fornecida em cada broca”, detalha o Gerente de Negócios da companhia.
A alta capacidade de bombeamento (550 kg/min) e derramamento (1.100 kg/min), o carregamento de furos semiautônomos, e a redução no número de ativos, pessoas e tempo necessário para carregar uma explosão, estão entre as outras vantagens proporcionadas pela solução.