Reaproveitamento de rejeitos: alternativa de nova matéria-prima da construção civil
Material oriundo de rejeitos de barragem pode ser utilizado na fabricação de tijolo e concreto, além da pavimentação de estradas
Com o rompimento das barragens de Mariana (MG) e Brumadinho (MG), a lama de rejeitos passou a ser uma preocupação, uma vez que a mineração tem impacto acadêmico e social. Quem explicou este quadro foi Evandro Moraes Gama, Professor de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista concedida à TV UFMG. Desde 1997, a universidade faz pesquisas e estudos sobre os rejeitos que, atualmente, foram conceituados como “coproduto”, já que com o seu uso é possível produzir cimento pozolânico e areia e, com isso, o concreto.

Tragédia ambiental de Brumadinho – MG / Crédito: Washington Alves – Reuters
Dentre as pesquisas, a UFMG desenvolveu a “Calcinação Flash” (CF), um processo de separação rápida dos rejeitos e da areia que permite o teste de prova para verificar a resistência do concreto. Outra técnica adotada é a “Pelotização de Rejeitos”, que pode ser feita de diversas formas e utilizada na composição do concreto, eliminando o uso da brita. “Isto acarreta a utilização de um passivo ambiental, transformando-o em pelota, o que reduz a utilização de calcário e de guinais, diminuindo o impacto ambiental”, disse o Professor Gama.
Mas, afinal, o que é o rejeito? Trata-se de um composto resultante do beneficiamento do minério de ferro. Ou seja, após a separação do minério de ferro do material sem valor comercial, tem-se o rejeito, composto por minérios pobres, areia e água. Podendo ter aspecto arenoso ou lama, ele não é tóxico, corrosivo ou inflamável. No Brasil, inclusive, já existem técnicas para reaproveitar os rejeitos e diminuir o uso de barragens. Eles são transformados em agregados que ajudam na produção de argila, concreto, cerâmica, tijolos, na construção de casas e na pavimentação de estradas.
Essa nova forma de aproveitar o material tem impactos positivos tanto econômicos, quanto ambientais, e já é adotada em países como a China, que é referência na promoção da economia circular, integrando diversos setores industriais na busca de soluções para o aproveitamento de rejeitos e resíduos da mineração chinesa. A meta do país é aproveitar 22% do volume de rejeitos minerais, até 2022, afirmou Roberto Galéry, Chefe de Departamento de Engenharia de Minas da UFMG.

Tijolos produzidos com rejeito de barragem
Se por um lado as pesquisas sobre a diminuição das barragens e o aproveitamento dos rejeitos na construção civil avançam, por outro há um mínimo interesse das grandes empresas e do governo. Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei 1496/2019, que sugere que as empresas mineradoras deverão destinar rejeitos da mineração à construção civil. O PL também prevê medidas de segurança para as comunidades que moram próximas às barragens, além da geração de empregos, renda e a preservação ambiental e social. Após análise da Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), a matéria passará para a Comissão de Meio Ambiente (CMA) e se aprovada, seguirá para a Câmara dos Deputados para análise final.