Presidente da ANEPAC faz balanço e indica perspectivas para o setor de agregados
Fernando Valverde destaca os principais entraves para crescimento, assim como ações de gestão e perspectivas para o setor de agregados em 2020
Após um ano atribulado e com várias incertezas na economia nacional, o Brasil ainda segue com perspectivas otimistas para 2020. A redução de juros, bem como medidas para a retomada de investimentos se apresentam como soluções para superar os obstáculos enfrentados em alguns setores, incluindo o de agregados.
Quem comenta sobre este panorama é Fernando Mendes Valverde, Presidente Executivo da Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção (ANEPAC), em entrevista concedida com exclusividade à Revista Agregados Online.
De acordo com o porta-voz da ANEPAC, a crise econômica ainda figura como a maior dificuldade enfrentada pelas empresas desde 2013, ano em que o setor de agregados atingiu o marco histórico de 745 milhões de toneladas. Além disso, a estreita relação entre a mineração de agregados e o ambiente urbano também se tornou um desafio recorrente ao longo dos anos.
“Trabalhamos na situação mais adversa possível. Para reverter esse quadro, seria imperativo reservar e proteger tanto as áreas em produção quanto as áreas potenciais a serem exploradas. Devemos reconhecer que o Brasil ainda está muito atrasado nesta questão. Até existe o reconhecimento de que a mineração de agregados é uma atividade importante para a melhoria do padrão de vida dos habitantes das cidades. Entretanto, institucionalmente, muito pouco foi feito. Ainda persiste entre os administradores públicos a noção distorcida de que os recursos minerais para a produção de agregados para construção são abundantes”, pontua Valverde.
Ele indica que é preciso mudar a mentalidade de que as pedreiras e os portos de areia são obstáculos para o país e enfatiza que é fundamental investir em recursos como areia e rochas para a construção civil. De acordo com o executivo, não há previsão de investimentos a longo prazo nem mesmo em grandes Estados consumidores. “No Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, o problema já era grave na década de 1970 e muito pouco foi feito para saná-lo. Nesse sentido, cabe aos produtores fortalecerem suas entidades de classe para reivindicar e participar de medidas efetivas para planejar esta atividade. Em suma, a sustentabilidade passa obrigatoriamente pelo planejamento das operações”, diz.
Valverde afirma que a gestão e o planejamento aliados às políticas públicas e econômicas, são indispensáveis para garantir o desenvolvimento do segmento. Assim como ações que promovam o crescimento da renda do brasileiro, a recuperação da capacidade de investimentos dos governos e sua associação com capitais privados para obras de infraestrutura como concessões, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), saneamento básico, mobilidade urbana, entre outras iniciativas.
“O aumento da renda gera demanda para a indústria da construção e a necessidade de infraestrutura e serviços. Já os investimentos públicos atraem investimentos privados. Como comparação, quando o mundo passou a viver um ciclo de crescimento com aumento da demanda de muitas commodities, o Brasil passou a crescer também com base na exportação. Isto gerou renda e emprego para os brasileiros”, diz.
Ele ainda complementa que com um número maior de pessoas empregadas, a renda aumentaria e, consequentemente, a demanda econômica como um todo também, incluindo a construção civil. Para tanto, o investimento em políticas que estimulem o crescimento econômico é indispensável.

Fernando Mendes Valverde – Presidente Executivo da ANEPAC
Perspectivas para 2020
Segundo o presidente executivo da ANEPAC, o volume de agregados no país apresentou um aumento de 3,4% em 2018 e fechou o ano de 2019 em aproximadamente 3,5%, atingindo 532 milhões de toneladas. Para 2020, Valverde argumenta que a estimativa é de 3,5% e analisa que o crescimento do setor nos últimos três anos rompeu a tendência de queda e estagnação da produção, faturamento e investimentos predominantes nos anos de 2013 a 2017. Contudo, ele aponta que ainda serão necessários mais dez anos para que o mercado retome o nível de produção de 2013.
Os sinais da recuperação econômica, mesmo que graduais, indicam que em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) avançará ao menos 2%. Porém, é preciso lembrar que os cinco últimos anos começaram com promessas otimistas logradas, que não foram entregues conforme o prometido. “Importantes medidas governamentais foram anunciadas em 2019, como a Reforma da Previdência, a Lei da Liberdade Econômica, a redução dos juros e o controle da Inflação. Outras medidas estão em curso, como o Marco Regulatório das Concessões, as parcerias público-privadas e do Saneamento, que contribuirão para um ambiente mais favorável ao investimento”, declara.
Quanto as principais tendências e novidades no uso dos materiais, há expectativas de que o filler, por exemplo, passe a avançar caso haja investimentos. Na visão de Valverde, a utilização de pó de rocha como remineralizador é uma prática antiga, sendo as calcárias as mais comuns empregadas como corretivo da acidez do solo. Já as fosfatadas podem ser aplicadas de forma natural nos solos, as basálticas como fontes de cálcio e magnésio, e o sienito como fonte de potássio, entre outras rochas passíveis de liberação de nutrientes.
“Para expandir esta aplicação são necessários mais estudos sobre as alternativas ambientais e economicamente viáveis, se contrastadas às adubações convencionais na agricultura, visto que uma das principais limitações desta prática alternativa é a lenta solubilização dos minerais, os nutrientes das plantas”, explica.
No que tange ao desenvolvimento de novos produtos oriundos dos rejeitos, o presidente da ANEPAC pontua que quando comparada a outras minerações, especialmente a de minerais metálicos, a produção de agregados gera pouco volume destes materiais.
Ainda assim, diversos produtores buscam reduzir esse volume utilizando os agregados na criação de outros produtos como areia, blocos e artefatos de cimento, a fim de reduzir os impactos ambientais. “Em particular para as rochas graníticas, há pesquisas de viabilidade de recuperação de feldspato a partir dos finos de britagem. A pesquisa e o desenvolvimento fazem parte da melhoria dos processos de produção e comercialização”, destaca.
Regulação do setor no Brasil
Planejamento eficiente e regras mais claras de logística de transporte de cargas são fatores primordiais para garantir segurança, maior rentabilidade e a qualidade dos produtos. No mercado de agregados não é diferente, por isso, o programa de controle e peso é tão importante.
A precariedade na medição volumétrica para a venda, pela utilização de metodologia manual, é altamente imprecisa na quantificação do produto vendido, acarretando, inclusive, a suspeição sobre a operação de venda. Conforme exemplifica Valverde, ainda hoje, grande parte das mineradoras de pedra britada e areia realizam suas vendas através da medição do volume de seu produto, ou seja: carregam a caçamba do caminhão, fazem o nivelamento do material e por fim medem a altura da carga para determinar uma média aproximada do volume.
A prática está explicitamente exposta à interferência da subjetividade da operação humana. Desta forma, o método de medição gera imprecisões, prejudica a relação transparente entre o produtor e o consumidor, além de demandas técnicas e comerciais, e pode mostrar diferenças sensíveis nas entregas e recebimentos de pedra britada e areia.
O Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada do Estado de São Paulo (SINDIPEDRAS) realizou diversos experimentos em diferentes unidades de produção e medidores de carga, que constataram erros de até 8%, para mais ou para menos, no volume da carga.
No que se refere ao peso e dependendo do tamanho da caçamba esse erro pode resultar em uma diferença de até 2,6 toneladas para areia e 3,0 toneladas para a brita. Estas falhas de avaliação acarretam perdas econômicas, além de sobrepeso de carga, expõem produtores e transportadores às autuações dos órgãos de fiscalização, aumentam a possibilidade de acidentes e abreviam a vida útil das estradas onde transitam os materiais.
Outro fator a ser considerado, é o de natureza legal, pois, versa sobre as obrigatoriedades relativas às informações legais requeridas pela Agência Nacional de Mineração (ANM), para fins de contabilização de reservas, produções e comercialização de pedra britada e areia. As regras estão dispostas na Portaria nº 456 de 25 de novembro de 2007, que estabelece a tonelada como medida-padrão nos documentos de atividades minerárias.
Enfim, o executivo destaca que entre os principais benefícios estão: o crescimento do número de viagens de transporte de cargas, o aumento na arrecadação dos pedágios, a diminuição no custo de manutenção dos caminhões e a redução do desgaste precoce dos pavimentos. Também há outras vantagens como a correção da tarifa de fretes para os transportadores autônomos, maior competitividade, readequação da frota de caminhões, cumprimento dos requisitos técnicos-legais e operacionais, transparência comercial, redução do consumo de combustível, segurança operacional e a sustentabilidade.
“Os argumentos favoráveis se fundamentam na nova realidade do setor, traduzida no constante e significativo incremento da produção e, em consequência, a necessidade de se estabelecer bases tecnológicas, de mercado e governança corporativa mais sólidas para este segmento. Nesse quadro, a comercialização é de suma importância”, finaliza.