Manual da ABRECON auxilia na gestão e aplicação de agregado reciclado na construção civil

Blocos de concretos produzidos com agregado reciclado
Ações como o descarte correto de entulhos e a preservação do meio ambiente estão entre os destaques do Manual de Aplicação do Agregado Reciclado (MARE)
As aplicações de agregados reciclados na construção civil, bem como a classificação e o descarte adequado destes materiais, tem sido uma constante preocupação na pauta dos principais envolvidos nesta indústria.
O uso e o reaproveitamento dos materiais nos próprios canteiros de obra e o encaminhamento para locais preparados para receber os produtos, são essenciais para garantir os padrões construtivos dos empreendimentos e principalmente para preservar o meio ambiente.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), apenas 20% dos resíduos da construção são aproveitados no Brasil, muito abaixo dos países europeus, em que a reciclagem atinge 98%.
Diante deste cenário, a associação criou o Manual de Aplicação de Agregado Reciclado (MARE). O material foi produzido em conjunto com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e lançado em novembro de 2018, durante o Seminário Nacional da Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição, a fim de padronizar a nomenclatura dos agregados, bem como mapear suas aplicações e facilitar a comunicação entre compradores e vendedores.
Além disso, o documento também visa difundir o conceito de gestão de resíduos no canteiro de obras, reduzindo custos com destinação e transporte.
“A ideia de criar o MARE partiu da necessidade em se padronizar o nome dos agregados reciclados. Como o Brasil é um país de dimensões continentais, ainda há um conflito para se referir ao material reciclado.
No passado era muito comum algumas usinas de reciclagem chamarem o rachão reciclado, por exemplo, de matacão, pedra de mãe e até seixo graúdo. Infelizmente pela ingenuidade ou descuido, a comunicação feita com o mercado acabou por afastar o interessado neste material”, explica Levi Torres, Coordenador da ABRECON.
O executivo ressalta que a publicação dispõe de ensaios sobre agregados e um conjunto de normas técnicas presentes em todo o país. O conceito apresentado no manual traz a informação de cada produto, bem como a sua performance, para convencer o engenheiro sobre a qualidade dele. Sendo assim, a publicação se aplica tanto à obra quanto a criar um nível mínimo para usina de reciclagem.

LeviTorres – Abrecon
“Há mais de 50 aplicações para o agregado reciclado no setor da construção civil. A maior variedade de aplicações está na pavimentação e em obras de geotecnia, que exigem menor utilização de tecnologia e, consequentemente, reduzem os custos do processo, garantem a economia de energia durante o método de moagem do entulho em relação a sua utilização em argamassas, entre outras vantagens”, afirma Torres.
Sobre os principais desafios enfrentados no país para a reciclagem de resíduos neste segmento, o Coordenador da ABRECON afirma que a maior dificuldade é fazer com que os principais envolvidos no mercado acreditem no potencial e na qualidade destes materiais. Além disso, ele também aponta a omissão na gestão correta dos produtos da construção como um problema.
Para Torres, a ausência de políticas públicas é um dos principais entraves para o desenvolvimento e a educação dos Estados e municípios sobre a gestão correta dos materiais. “Embora o resíduo da construção seja o mais relevante do que o total gerado pela população, ou seja, geramos mais entulho do que qualquer outro resíduo, não há nenhum Estado com programa de combate ao descarte irregular de entulho”, diz.
É importante considerar, também, que a qualificação do empreendedor é um ponto a ser melhorado. “Falta muito para o empresário entender o que é o agregado reciclado e qual é o impacto do seu negócio na cidade ou no ciclo sustentável. Precisamos avançar no que diz respeito ao compromisso com a causa ambiental”, complementa.

Aplicação de areia reciclada em obra de pavimentação
A tecnologia tem se mostrado um fator importante para o desenvolvimento da categoria, pois, quando aliada aos procedimentos corretos garante a produção de um agregado reciclado de qualidade. “Embora a disponibilidade de tecnologia no setor de resíduos da construção ainda esteja restrita a poucos players, a necessidade em se adequar a um mercado cada vez mais exigente e a competitividade farão com que as unidades de reciclagem de RCD busquem inovação.
Seja pela introdução de sistemas de gestão da usina, controlando e centralizando todas as informações do empreendimento, entrada de entulho e produção de agregado reciclado, ou, de forma inédita, desenvolvendo equipamentos com inteligência”.
Quanto as principais tendências, Torres enfatiza que haverá um crescimento no número de unidades de reciclagem de entulho com participação expressiva do estado de São Paulo nessa expansão, bem como um avanço das capitais na gestão dos resíduos da construção.