Os cuidados com manuseio de explosivos do ponto de vista do Blaster

Entenda a importância do olhar minucioso do Blaster para uma operação mais segura e eficiente nas detonações e manuseio de explosivos
O Blaster é uma das figuras mais importantes no desmonte de rochas. Trata-se do profissional capacitado para executar o plano de fogo, através da realização do carregamento e detonação dos explosivos. Ou seja, ele é um dos grandes responsáveis pelo processo de análise de riscos, segurança, manuseio e transporte deste material.
Para entender melhor a função e o papel da profissão no quesito segurança, conversamos com dois experts no assunto: o Engenheiro de Minas e Consultor Manoel Jorge Diniz Dias, conhecido como “Manezinho da Implosão”, discípulo de uma referência mundial em implosões, o saudoso engenheiro Hugo Takahashi, ele ganhou fama com dezenas de grandes implosões de pontes, fábricas, estádios de futebol e prédios em área urbana como os famosos casos do Edifício Palace 2, o prédio da CESP, o complexo de presídios do Carandiru, entre outros grandes eventos de implosão realizados no Brasil na década de 90 e no início dos anos 2000, e o sul-africano radicado no Brasil, Morgan John Watkins, Engenheiro de Minas e Gestor de Obras.
Segundo eles, apesar do Blaster não atuar diretamente na elaboração do Plano de Fogo, ele assume um importante papel de colaborador com o projeto, informando o Engenheiro de Minas sobre detalhes de campo, que possam influenciar no resultado da detonação. “A função do Blaster está diretamente ligada à execução dos serviços de detonação, a partir do plano de fogo estabelecido. Os principais itens a observar são o tipo de rocha e as características específicas da rocha a ser detonada. A escolha do tipo de explosivo, assim como demais parâmetros do plano de fogo, são norteadas por essas informações”, explica Manoel.
O Blaster atua também na avaliação das principais interferências no entorno e na área de operação, avaliando necessidades específicas da detonação, coordenando o trabalho da equipe de campo, bem como disciplinando o uso correto dos explosivos e acessórios. “A nossa atuação é imprescindível na verificação do pós-detonação, para constatar ou não a existência de falhas no processo e adotar as medidas cabíveis quando necessário”, complementa Manoel.
Os Blasters reforçam que os explosivos são materiais extremamente seguros e estáveis. Segundo eles, os maiores riscos relacionados ao uso e a ocorrência de acidentes, tanto na fabricação, transporte e manuseio, estão associados aos acessórios de detonação, representados pelas espoletas de diversos tipos. “Os acessórios são bem mais sensíveis que os explosivos. Por isso, a aplicação deve ser cuidadosamente acompanhada pelo Blaster”, lembra Morgan.
As dicas para minimizar os riscos nesta frente incluem realizar o transporte de acessórios em pequenas quantidades e separadas dos explosivos; estar atento às ligações dos circuitos; e ter atenção redobrada ao adotar medidas preventivas de proteção.
Entre os principais problemas que afetam diretamente o entorno das detonações e que podem surgir quando as medidas de segurança não são levadas a sério, está o fenômeno de ultralançamento (termo empregado para expressar a inesperada projeção de fragmentos de rocha a grandes distâncias) e outras ocorrências, como: a vibração, que pode causar danos nas estruturas; o ruído ou barulho, que gera desconforto e até mesmo a ocorrência de quebra de vidraças; e a poeira.

Serviços realizados na Pedreira Mongaguá pela equipe de Manoel
Confira as dicas apontadas por Manoel Dias e Morgan Watkins para controlar cada um destes fenômenos:
- O ultralançamento pode ser eliminado utilizando-se métodos de proteção, como uma cobertura de argila ou mantas de borracha ou metálicas;
- A vibração pode ser controlada por meio do bom sequenciamento da detonação, onde centenas de explosões, com milhares de quilos de explosivos, ocorram defasadas por milésimos de segundos, atenuando seus efeitos e concentrando sua energia na fragmentação do maciço rochoso;
- O ruído pode ser amenizado utilizando-se acessórios de detonação chamados de “silenciosos”. Apesar de não eliminarem totalmente o ruído gerado, eles reduzem significativamente seus efeitos;
- A vibração e o ruído devem ser monitorados durante a detonação, através de aparelhos denominados “sismógrafos de engenharia” e comparados com valores estabelecidos pelas normas vigentes;
- A poeira é o fator nocivo mais difícil de ser controlado. A umectação já se provou muito pouco efetiva, já que a grande quantidade de superfícies geradas pela fragmentação da rocha produz poeira em níveis dificílimos de serem mitigados. Nestes casos, convive-se com a poeira, quando as condições locais são favoráveis à sua dispersão, ou, em casos mais críticos, a dica é procurar realizar a detonação em dias e horários com direção e intensidade do vento favoráveis.
Atualmente, a NMR-16 é uma das principais normas vigentes sobre operações com explosivos e acessórios.
Ela estabelece critérios e cuidados com o transporte, manuseio e armazenagem destes materiais, trazendo considerações importantes sobre a segurança em todas estas etapas. No entanto, ao ser aplicada de forma isolada, ela não garante por só a eficácia e a eficiência das operações com explosivos.
“Também é preciso atender a outras normas regulamentadoras que auxiliam na promoção da segurança da operação, como as de segurança do trabalho e as elaboradas pela ABNT e pelo Exército Brasileiro. Além disso, existe o fator humano que é de extrema relevância. Para serem seguras, as operações de desmonte dependem de uma equipe devidamente treinada, capacitada e conscientizada sobre as responsabilidades envolvidas nos trabalhos desta natureza”, destacaram os especialistas.
Sobre este último aspecto, ambos os entrevistados explicam que os cursos existentes no mercado são, em sua maioria, essencialmente teóricos. Nesta área, no entanto, a prática é elemento indispensável à diminuição dos riscos de acidentes.
“Sem querer dar uma receita pronta, acreditamos que a sensibilidade do Blaster na identificação da ‘vocação’ entre àqueles considerados ‘auxiliares de Blaster’, cujo conhecimento prático, associado a um aprimoramento da formação através de cursos específicos para Blaster, com os devidos fundamentos teóricos, pode representar o melhor caminho na formação adequada desses profissionais, vitais nas operações de detonação. A prática do campo, agregada à teoria dos cursos, são fundamentais para a criação de uma cultura de conduta segura”, finalizam.
Entendimento da geologia, boa perfuração e correta utilização de explosivos: os três pilares para uma operação segura, na visão da Nitro
Como você viu, um desmonte de rochas envolve uma série de fatores, começando na escolha adequada deste material e indo até a execução do plano de fogo, que deve conter as seguintes etapas: definição dos parâmetros do desmonte; marcação e nivelamento dos furos; execução da perfuração; conferência da profundidade dos furos; cálculo das quantidades de explosivos e acessórios necessários; definição da temporização e do sequenciamento do desmonte; execução do mesmo, que envolve as etapas de escorva, carregamento dos furos, tamponamento e amarração; e, por fim, a análise do resultado.
Para a Nitro, empresa gaúcha especializada em desmonte de rochas com uso de explosivos civis, o seguimento das normas que regulamentam as atividades de mineração e o uso de explosivos é fundamental para uma detonação que não ofereça riscos e evite problemas. Enrique Munaretti, Sócio da companhia, pontua que uma boa detonação é formada pelo tripé: entendimento da geologia, boa perfuração e correta utilização de explosivos.
Quando algum destes fatores é negligenciado, o resultado pode ser fatal. “O que vemos acontecer são vários erros somados, como falta de entendimento da geologia do local e de treinamento dos executores, projetos mal elaborados, perfuração mal feita, e erro na escolha dos explosivos e demais equipamentos que serão utilizados”, detalha o especialista.
A principal norma apontada por Munaretti para mitigar estes riscos é a NBR 9653, que especifica a metodologia para reduzir os riscos inerentes ao desmonte de rocha com uso de explosivos em indústria de mineração e construção em geral. A NBR 9653 estabelece parâmetros a um grau compatível com a tecnologia disponível, para a segurança das populações vizinhas, referindo-se a danos estruturais e procedimentos recomendados quanto à resposta humana.
Um ponto de atenção trazido pela Nitro é o treinamento dos profissionais que lidam com explosivos – tanto no manuseio, transporte e armazenagem, quanto na detonação. “O material explosivo é absolutamente seguro, desde que tenhamos pessoas com competência para manuseá-lo. Muitos problemas são provenientes de mão de obra mal treinada, que não segue procedimentos”, afirma Munaretti, endossando os apontamentos feitos pelos Blasters Dias e Watkins.
Como forma de minimizar esta questão, a Nitro oferece cursos de capacitação e atualização em diversas áreas de tecnologia em desmonte de rochas com o uso de explosivos, conforme a necessidade de cada empresa. Vale destacar que os cursos contam com a participação de consultores internacionais e parceiros da empresa gaúcha nos Estados Unidos e Austrália.
Entre os tópicos abordados nos treinamentos da companhia, estão: influência de geologia no desmonte com explosivos; influência da perfuração no desmonte com explosivos; formulações explosivas; acessórios e iniciação; análise de fragmentação; plano de fogo inicial e refinamento; impacto ambiental e medição de vibração e ruído; segurança no uso, transporte armazenagem de explosivos; uso de explosivos e relação com comunidades vizinhas; desmontes especiais (área urbana, implosão); e medição de desempenho de explosivos e acessórios de detonação.