Abrecon aponta vontade política, conhecimento técnico e financiamento como os três pilares para alavancar a gestão de RCD
Assunto foi discutido durante o II Fórum Brasil de Gestão Ambiental, realizado em Campinas (SP), em junho
Entre os dias 26 e 28 de junho, Campinas (SP) sediou o II Fórum Brasil de Gestão Ambiental. Entre os assuntos debatidos durante o evento, destacou-se a gestão sustentável de Resíduos da Construção e Demolição (RCD), pauta que foi abordada por Hewerton Bartoli, Presidente da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon). Na ocasião, ele apontou os três pilares principais de boas práticas na gestão deste tipo de material: vontade política, conhecimento técnico e financiamento.
“O primeiro ponto é que o assunto precisa estar presente na agenda do Governo, para que o poder público assuma o seu papel”, disse Bertolli. Segundo ele, o tema de Resíduos de Construção disputa espaço na distribuição dos recursos financeiros da gestão pública, mas ainda não é tratado com a devida prioridade. “Os efeitos e desgastes com a não prioridade faz com que o Gestor Público tome decisões ainda mais prejudiciais ao Meio Ambiente e para a própria imagem do seu município”, pontua.
No que diz respeito ao conhecimento técnico, o Presidente da Abrecon defendeu que a operação, processamento e a utilização dos agregados dos resíduos da construção civil, devem ser feitos com técnica e pesquisa. O que acontece, no entanto, é que o poder público geralmente não tem profissionais especializados na estruturação e operação do sistema de Gestão e Reciclagem. A alternativa sugerida pela entidade para minimizar este aspecto é a busca de novos quadros ou parceiros na iniciativa privada para encontrar um melhor destino aos seus resíduos. “O conhecimento deve ser na fase de Gestão, Implantação e Utilização dos produtos gerados após o tratamento do entulho, na utilização dos agregados em obras e serviços para ambos os poderes (publico e privado)”, complementou Bartoli.
Além disso, o conhecimento técnico também passa pelo monitoramento. De acordo com a Abrecon, é imprescindível um sistema de fiscalização do processo, desde a geração até o descarte correto dos resíduos, certificando o gerador que seu resíduo foi transportado, descartado e tratado corretamente. Isso não somente traz confiabilidade para toda a gestão dos resíduos, como também faz com que o manejo adequado comece a despertar consciência ambiental em todos os atores da sociedade.
Por último, Bartoli apontou a importância de se viabilizar o pagamento dos serviços por meio de orçamento público, receitas direta e indireta para custeio do gerenciamento de RCD e receita com a venda de agregados reciclados. “Existem várias maneiras de financiar a gestão dos resíduos. A grande questão é que, atualmente, o dinheiro está mal locado. Soluções existem, agora basta colocá-las em prática”, finalizou.
Educação ambiental: um entrave fundamental para o setor prosperar
Você sabia que cerca de 100 milhões de toneladas de RCD são gerados anualmente no Brasil? O mais interessante é que, ao contrário do que muitos pensam, cerca de 50% a 70% destes materiais não são provenientes de grandes construtoras, mas sim de pequenos geradores (pessoas físicas) que raramente se preocupam em dar a destinação correta aos resíduos. “Um problema recorrente é que, muitas vezes, os resíduos de construção são misturados com resíduos urbanos. Como resultado, o custo da triagem acaba inviabilizando a reciclagem do material”, explica Hewerton Bartoli, Presidente da Abrecon.
Por esse motivo, a resposta para esta questão deve passar pela educação ambiental. “Se mais da metade de RCD vem da pessoa física, é esse público que precisamos educar primeiro”, defende Bartoli. Segundo ele, é preciso que o poder público crie campanhas educacionais e promova palestras e eventos que abordem a importância da separação correta dos resíduos. Por parte das associações e sindicatos do setor, o papel é investir cada vez mais em capacitação, para que exista uma triagem na fonte e, consequentemente, os resíduos cheguem nas usinas de forma mais consistente e segregada, favorecendo o processamento, reciclagem e venda deste material.